Diário de Viagem – Treino de Turismo em Itália

Junho 24, 2021

Daniel Veríssimo, Técnico de Empreendedorismo da Rewilding Portugal, esteve presente no Treino de Turismo da European Safari Company em Itália, e traz uma experiência mágica na bagagem e que agora partilha connosco.

Um desafio irrecusável

Este mês tive a oportunidade de participar no Treino de Turismo de European Safari Company. Este é o meu diário da viagem, um relato em primeira mão desta experiência de 5 dias e 4 noites pelas Montanhas do Centro de Itália, no Parque Nacional de Abruzzo Lazio e Molise, um dos parques mais antigos de Itália e um dos mais famosos parques nacionais da Europa. Do programa desenhado pela Aukje, da European Safari Company (ESC) e pelo Simon da Nature Tourism Development, participaram pessoas de Portugal, Croácia, Eslovénia, Holanda, Alemanha e Itália. Os nossos guias nas descobertas pela Itália Selvagem foram o Umberto e a Valeria, guias locais da WildLife Adventures. De destacar a participação de dois operadores na nossa área do Grande Vale do Côa, o Fernando Romão da WildLife Portugal e o Paulo Martinho da WildCôa, membros da nossa Rede Côa Selvagem.

O objetivo deste treino era formar guias de natureza para a realidade europeia, inspirados nos safaris do continente africano. Aprendemos imenso sobre como apresentar as experiências, a importância da hospitalidade com os clientes e da ética, tão importante no segmento do turismo de natureza.

 

Sítios mágicos e inspiradores

Tive ainda a sorte de viver momentos mágicos, daqueles que deixam um sorriso na cara e um brilho no olhar. Desde a caminhada por uma floresta centenária com árvores grandes e velhas com copas majestosas, ao encontro com uma raposa curiosa ou ao avistamento de um lobo a perseguir um veado, algo que parecia saído de um documentário da National Geographic, uma experiência muito especial. Ouvi histórias inspiradoras de um parque bem gerido com uma estrutura própria e de um Ministério do Ambiente ambicioso e com visão. No início dos anos 90 não existiam veados nem corços no parque, mas depois de um programa de reintrodução, as duas espécies de herbívoros regressaram, são bastante abundantes e para sorte dos visitantes são relativamente fáceis de ver. Dentro dos limites do parque nacional, não vi passadiços ou baloiços, não vi estradas a subir cada montanha e não vi fogo proscrito. Vi trilhos limpos e bem mantidos, vi transportes públicos entre as aldeias do parque e pontos de interesse e vi florestas verdes e húmidas. Vi paisagens selvagens a fervilhar de vida!

Ouvi que o argumento económico não é usado para estragar e explorar, mas sim para conservar e restaurar. O Parque Nacional foi alargado para novas áreas, a pedido das populações locais, para promover o desenvolvimento económico da região. Numa altura em que o abandono rural e agrícola apresenta desafios, e é aliás uma situação cada vez mais comum um pouco por toda a Europa – de Portugal à Polónia e de Espanha à Grécia, o restauro de zonas naturais é uma oportunidade não só para armazenar carbono e cuidar da natureza, mas também para oferecer novas oportunidades às populações locais.

 

Exemplo a replicar em Portugal?

O bom trabalho da Rewilding Apennines, que trabalha em aumentar a coexistência com um conceito inovador – as comunidades “urso esperto” – tem a importante missão de proteger apiários e galinheiros, promovendo ao mesmo tempo a dispersão natural dos ursos, removendo arame farpado e podando pomares de macieiras e pereiras abandonados para aumentar a disponibilidade de alimento e desenvolve ainda uma economia local baseada na natureza e com um grande foco no turismo e na culinária. Garante assim que os conflitos com a vida selvagem são raros e localizados e que as populações rurais beneficiam da natureza de uma maneira sustentável e harmoniosa.

A viagem a Itália deixa perguntas e ideias no ar para aplicar no Côa e para várias áreas do nosso país. Será possível imaginar algo idêntico no nosso país? Na Serra da Estrela, em Montesinho ou no Gerês? A geografia e o clima são idênticos. Será que o Grande Vale do Côa pode unir a abundância e diversidade de aves a uma grande abundância de herbívoros? Será que a coexistência entre predadores nos Apeninos com ursos e grandes populações de lobos pode ser replicada em Portugal? Parece difícil, mas se os italianos conseguem, porque não nós? Eu acredito num Portugal selvagem!

 

 

 

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