As migrações são dos processos mais antigos do mundo animal, tratando-se de deslocamentos sazonais de um local para outro. Há diferentes razões pelas quais os animais migram. Por exemplo, algumas espécies migram para aproveitar disponibilidades sazonais de diferentes alimentos, outras para fugir ao clima agreste durante parte do ano, ou ainda por razões de reprodução. No Grande Vale do Côa existiram, existem e poderão voltar a existir várias migrações de aves, peixes e mamíferos.
A migração das aves na primavera e no outono, é rica e diversa. Aves pequenas mas carismáticas como o cuco, o papa-figos, ou o colorido abelharuco visitam o Grande Vale do Côa nos meses quentes e amenos do ano, assim como o único abutre migrador da Europa, o britango ou a esquiva e bela cegonha-preta, as aves de maior porte que migram para o Côa. A razão por detrás destas migrações, que enchem o céu de cor e o campo de música, é a reprodução – estas aves invernam noutros sítios mas reproduzem-se no Côa.
Os movimentos de peixes entre rios e ribeiras e entre rios e o mar já foi mais diverso do que é atualmente. No passado próximo, nos anos 80, ainda existiam esturjões (antes conhecidos como solho) no Douro, e o salmão era abundante na idade média. Ambos estes peixes desapareceram da região do Côa devido à construção de barragens. Hoje em dia, nas águas rápidas e frescas do rio Côa, barbos e bogas ainda migram entre o Côa e as ribeiras adjacentes em busca de alimento e para concluir o seu ciclo de vida.
As migrações de animais no Côa eram tão impressionantes no passado que os seres humanos do paleolítico gravaram na rocha o antigo espetáculo de vida selvagem na paisagem. As gravuras encontradas no Parque Arqueológico do Vale do Côa ilustram cavalos selvagens, auroques (os antepassados selvagens dos bovinos domésticos), cabras-montesas e veados. Durante milhares de anos, migrações de milhares de animais ao longo do Grande Vale do Côa ajudaram a manter uma paisagem em mosaico rica em biodiversidade.
No futuro, cavalos e veados poderão voltar a migrar entre o Vale do Douro no Inverno, o planalto na Primavera e Outono e as zonas altas da cordilheira central no Verão. A cabra-montesa poderá voltar a usar a paisagem acidentada do rio Côa nas suas migrações anuais à procura de pastagens e frutas como os figos, as amoras e os medronhos, e frutos secos como as castanhas e as bolotas.
As migrações são um processo natural importante pela sua capacidade de reciclar e transportar nutrientes entre diferentes áreas. Para isso é fundamental minimizar a fragmentação de habitats naturais, através da remoção de barreiras físicas como as barragens e açudes no caso dos rios, e estradas e vedações no caso dos habitats terrestres Ao permitir uma maior conectividade na paisagem, é possível reforçar o corredor natural do Grande Vale do Côa, criando novamente um palco onde estas espécies possam voltar a migrar.
As migrações do Côa no passado era inspiradores e impressionantes, as de hoje são uma miragem, como serão as migrações do futuro?