Os Lupi EcoClubes, dinamizados no âmbito do projeto LIFE WolFlux, tiveram finalmente oportunidade de levar os jovens participantes para atividades de campo, em que, num contacto direto com a natureza, puderam aprender e consolidar ensinamentos muito importantes sobre o que os rodeia.
Adaptabilidade e resiliência
Os Lupi EcoClubes, clubes extracurriculares relacionados com a natureza dinamizados no âmbito do projeto LIFE WolFlux, arrancaram este ano letivo, ainda que condicionados numa fase inicial pela situação pandémica. Numa primeira fase, houve necessidade de adaptar estes ecoclubes a uma realidade virtual, em que se pudesse transmitir conteúdos aos alunos que estivessem com aulas a partir de casa através do ensino à distância. Para tal, foram desenvolvidos pela ATNatureza, parceiro do projeto responsável por esta ação, em conjunto com a Rewilding Portugal, conteúdos específicos para este tipo de ensino, assim como a interação entre os alunos participantes das várias escolas através do uso da rede social Instagram, para possibilitar a partilha de experiências e conhecimentos. Neste primeiro ano, participaram cinco escolas do distrito da Guarda, sendo um programa que vai seguir no próximo ano letivo para outras escolas nos distritos da Guarda e Viseu.
Com o evoluir favorável da pandemia em Portugal e o levantamento de grande parte das restrições, foi possível regressar às escolas de forma presencial e aí começaram a ter lugar as atividades de exterior, essenciais para transmitir este tipo de conhecimento tão prático e de contacto tão direto.
Visitas de campo
Na Agrupamento de Escolas de Mêda, os alunos da turma inserida nesta iniciativa tiveram a oportunidade de estar em contacto com um pastor local, de forma a entenderem melhor o seu trabalho, as suas práticas, as suas dificuldades/perigos e ainda as medidas de prevenção de prejuízos que este utilizava para reduzir a predação por parte do lobo ibérico ao gado, como a utilização de cães de gado, como era o caso. O pastor visitado tinha tido ataques recentemente na sua propriedade e foi positivo poder partilhar a experiência com os mais jovens e as soluções que este defende poderem melhorar a proteção de gado, ao mesmo tempo que se protege o lobo ibérico.
Na impossibilidade de, devido às restrições ainda vigentes, juntar todas as turmas num campo educacional como era o objetivo inicial, as escolas participantes foram convidadas a visitar de forma guiada a Reserva da Faia Brava no final do ano letivo, para consolidarem os temas desenvolvidos nos ecoclubes ao longo do ano nomeadamente: renaturalização do Vale do Côa, conhecer melhor a fauna e a flora locais, entender melhor como funciona o trabalho de conservação da natureza na reserva e na região e ainda olhar para o Vale do Côa como um corredor ecológico.
Estas experiências e visitas ao campo foram fundamentais para mostrar no terreno como as coisas acontecem na prática e para dar a conhecer o que o projeto e respetivos parceiros estão a fazer no terreno para tornar Portugal um lugar mais selvagem e para garantir a subsistência e viabilidade de determinadas espécies fundamentais para os nossos ecossistemas, como é o caso do lobo ibérico.
Celebrar o Dia Mundial do Ambiente na Guarda
Por dificuldades técnicas, a Escola Básica Carolina Beatriz Ângelo, que pertence ao Agrupamento de Escolas da Sé, na Guarda, não pôde participar na atividade de campo proposta para a Reserva da Faia Brava, e os Lupi EcoClubes sugeriram então a alternativa de realizar atividades de exterior na escola durante o Dia Mundial do Ambiente, iniciativa que foi bem aceite e que se realizou com 4 workshops de exploração da natureza ao longo desse dia.
A primeira atividade realizou-se com a orientação de Ana Nunes (ATNatureza), com o tema “Identificação de aves selvagens”. Neste workshop explicou-se aos jovens a importância das aves nos ecossistemas, realizando-se de seguida uma sessão de observação de aves na envolvência da escola, com o auxílio de um telescópio terrestre. Foi uma boa oportunidade para os jovens estrearem os cadernos de campo do Lupi EcoClubes e anotarem as suas próprias experiências e observações realizadas na natureza.
O segundo workshop coube a Inês Bom (ATNatureza) com o tema “A natureza selvagem do Vale do Côa”. Através de uma versão adaptada do jogo da glória, os estudantes tiveram a oportunidade de, de uma forma divertida e lúdica, aprenderem mais sobre este tema e sobre a sua região e da biodiversidade que esta tem.
Marco Ferraz (ATNatureza), técnico responsável pelos ecoclubes e pelas aulas teóricas lecionadas no âmbito destes, foi o responsável pela terceira atividade com o tema “Arte na Paisagem”. Os estudantes recolheram elementos naturais ao longo de um pequeno passeio na zona da escola, nomeadamente folhas e flores, criando depois expressões de arte que as usassem, de uma forma totalmente natural e biodegradável, que resultou num painel que ficou em exposição na escola. Uma forma diferente de explorar e olhar para a natureza, valorizando-a através da arte e da criatividade artística.
O último workshop coube a André Couto (Rewilding Portugal), com o tema “Rastros e trilhos de animais selvagens”, onde os estudantes aprenderam como funcionam as câmaras de fotoarmadilhagem e os seus objetivos, vendo ainda fotografias e vídeos captados no Grande Vale do Côa para entender como é feito este trabalho de monitorização de fauna e para que serve. Tiveram ainda contacto com material biológico de vestígios de fauna silvestre para conhecerem melhor o que os rodeia.
Para Marco Ferraz, técnico da ATNatureza responsável pelos ecoclubes, esta experiência não podia ter sido mais enriquecedora. “Ter a oportunidade de ir para o recreio da escola, conhecer as aves que habitam o recreio da escola, ver uma câmara de foto armadilhagem em funcionamento e poder falar com biólogos na primeira pessoa é sem dúvida uma experiência muito enriquecedora para os alunos” referiu, deixando ainda um apelo de ligação entre as crianças e a natureza. “É urgente reconectar as crianças à Natureza e tal só é possível com experiências efetivas e afetivas de contato direto com a Natureza, desta forma este projeto foi desenhado para privilegiar o contacto com o campo. Esse será o grande desafio para o próximo ano letivo 2021-2022 , esperando ansiosamente que tudo corra bem!”, concluiu.
O projeto LIFE WolFlux
O projeto LIFE WolFlux, em curso desde 2019, tem por objetivo remover as barreiras ecológicas e socioeconómicas à conectividade da subpopulação de lobo-ibérico a sul do rio Douro em Portugal. Nesse sentido, estão a ser implementadas uma série de ações para reduzir as principais ameaças a esta espécie. O projeto foca-se em reduzir conflitos com a pecuária, reduzir o furtivismo e os incêndios, e aumentar a disponibilidade de presas silvestres para o lobo.
O projeto pretende ainda aproximar estas temáticas do público mais jovem e criar sensibilização para as mesmas desde estas idades, para conseguir consciencializar e alterar mentalidades desde muito cedo, aproximando os jovens da natureza. Os Lupi EcoClubes focam-se em ensinar sobre a biodiversidade da região e promover a curiosidade e orgulho nos valores naturais de Portugal.
O projeto LIFE WolFlux é financiado pelo programa LIFE da União Europeia e co-financiado pelo Endangered Landscapes Programme. O projeto está a ser implementado por uma parceria de várias entidades, nomeadamente a Rewilding Portugal, Rewilding Europe, Associação Transumância e Natureza, Universidade de Aveiro e Zoo Logical.