João Cosme, reconhecido fotógrafo e realizador de natureza, foi o grande responsável por todas as imagens do documentário lançado pela Rewilding Portugal no final de 2020. Um aliado importante na transmissão do trabalho da organização para o exterior, assim como um embaixador de toda a magnificência do património natural português.
Como surgiu a tua paixão pela fotografia e vídeo de natureza? O que te levou a seguir esta carreira?
Desde muito cedo, ainda criança, via com o meu pai os documentários do “Homem e a Terra” do espanhol Felix Rodriguez de la Fuente. Foi sem dúvida a minha grande inspiração, mas desde sempre tive uma paixão pelos animais selvagens. O meu interesse tornou-se cada vez mais um sonho, trabalhar na conservação da natureza, promover e sensibilizar um público que ainda desconhece e desvaloriza o valor das outras espécies. Uma das formas, era a fotografia, de mostrar toda a beleza de outros seres vivos e, o que iniciei como um hobby, tornou-se na minha profissão.
A parceria com a Rewilding Portugal no desenvolvimento de diversos materiais de fotografia e vídeo já se vem prolongando no tempo. Como tem sido para ti o fortalecer desta parceria?
Neste momento, é uma experiência gratificante acompanhar o trabalho da Rewilding Portugal em diversos projetos. Sem dúvida, é algo diferente, com outro conceito, um desafio constante para mim, o que torna esta parceria cada vez mais valiosa a vários níveis.
O documentário exigiu de ti muito tempo do terreno e um conhecer aprofundado do Grande Vale do Côa. Como foi essa experiência? O que achaste mais fascinante em todos estes meses no terreno?
Qualquer trabalho nesta área exige um bom planeamento, conhecer o terreno, as espécies e muita dedicação. O Grande Vale do Côa já conhecia bastante bem, é uma região que exploro com muita regularidade. Evidentemente isto é uma grande vantagem, mas todos os dias descobrimos novos locais, cada estação do ano tem a sua beleza e o Côa é sempre surpreendente. Para mim o mais fascinante é a grandiosidade do vale ainda selvagem e as espécies rupícolas a ele associadas.
O resultado final a que se chegou representa bem o teu tipo de trabalho? Quais são os elementos presentes que melhor te identificam e representam?
Cada fotógrafo/realizador/operador de câmara tem sempre um estilo e um modo de trabalho. Eu sempre gostei de explorar mais a criatividade, trabalhar a luz. Para mim, o importante é passar uma imagem atrativa, de forma a cativar o público.
O filme foi transmitido em várias sessões públicas, com boa adesão e já foi visto online por mais de 14.000 pessoas, para além de nove nomeações para festivais, incluindo o CineEco. Ficas satisfeito com esse reconhecer que a própria comunidade e os teus pares estão a fazer do teu trabalho?
Penso que tudo isso se deve também ao trabalho de promoção da Rewilding Portugal, acho que aqui o mérito é da associação. É sempre gratificante e é um estímulo a continuar a trabalhar, sinto que se pode e se deve fazer muito mais e sempre melhor.
O rewilding e esta abordagem de conservação ganhou de certo também um lugar especial no teu coração. O que mais te tem fascinado no trabalho que a Rewilding Portugal vem desenvolvendo?
A forma diferente como atuam no terreno, valorizarem e estarem perto das pessoas que vivem no campo. Penso que só assim se consegue “educar” e mostrar que a conservação da natureza é um bem essencial para toda a sociedade. É um longo caminho ainda a percorrer, mas sem dúvida que a Rewinding Portugal está a fazer algo diferenciador no terreno.
Segue-se agora um novo documentário, que marcará o percurso de quatro anos de trabalho no terreno. Quais são os teus grandes objetivos e sonhos com este próximo trabalho?
Vai depender de muitas situações, do guião, do que se pretende, mas tenho sempre um objetivo que tento cumprir: melhorar sempre o trabalho anteriormente desenvolvido. Provavelmente ter um Côa selvagem, mostrar toda a beleza deste magnífico rio, a biologia mais aprofundada de algumas espécies valorizava ainda mais o trabalho.
Para além desta parceria, quais consideras que foram os teus grandes trabalhos e projetos na tua carreira até agora?
Tenho alguns que foram gratificantes até este momento. Talvez o trabalho que desenvolvi com o lobo-ibérico tenha sido algo motivador, pela espécie e pelo simbolismo que tem no nosso país. Mas tenho outros, por exemplo o meu último livro “Rios de Montanha – Nos Domínios do Melro-d’água”, foi um trabalho fotográfico desenvolvido nas regiões mais montanhosas da zona centro, onde durante vários anos acompanhei esta espécie peculiar deste habitat. Tive a oportunidade de colaborar com um dos melhores realizadores europeus de documentários de natureza, o espanhol Joaquin Gutierrez Acha. Foi na produção da película “Dehesa el Bosque del Lince Ibérico” e foi gratificante e uma experiência única.
Quais são os sonhos e grandes projetos que ainda tens por cumprir?
São imensos, mas a grande parte não passam neste momento de ideias, planeamento, etc. Um dos grandes projetos que adorava concretizar seria mostrar a beleza selvagem do Vale do Côa. A dimensão que tem, a parte selvagem, as espécies, é algo fascinante deste território. O Douro Internacional é outro grande objetivo. Um outro que estou neste momento a desenvolver, é sobre Viseu Natural, mostrar que nas zonas urbanas existe uma biodiversidade incrível, desconhecida e que a imagem pode e deve ser um veículo de promoção. Existem muitas ideias, mas esta área não é valorizada e é sempre difícil conseguir os apoios necessários.