Abutre preto juvenil marcado com um emissor viaja até ao Senegal

Dezembro 22, 2021

O juvenil de abutre preto, Caravela, sem sinal de GPS por duas semanas, surpreendeu toda a nossa equipa. A sua impressionante viagem levá-lo-ia a percorrer mais de 3000 km, entre o seu ninho e o Senegal. Conheça melhor a sua história e como conseguiu chegar ao destino.

Olho de África (The Richat Structure)

No dia 26 de outubro, na Serra da Malcata, foram marcados 2 juvenis, de primeiro ano, de abutre preto. O primeiro, apelidado de Ninja, foi um animal muito importante para a conservação da espécie porque ajudou a Rewilding Portugal a confirmar a terceira colónia de abutre preto em Portugal, na Reserva Natural da Serra da Malcata.

Mas o Caravela não se deixou ficar para trás e, depois de um pequeno susto, proporcionado pela perda de sinal de GPS que durou 2 semanas, este abutre surpreendeu toda a nossa equipa. A sua viagem levá-lo-ia a percorrer mais de 3000 km, entre o seu ninho e o Senegal, percorrendo em média 200 km por dia, por vezes ultrapassando os 300 km.

A viagem do Caravela começou a 1 de novembro de 2021, já a 80 km do local da sua captura. Terá passado os dias anteriores na sua colónia natal, presumivelmente em Espanha, e mais abaixo no Tejo Internacional.

Por volta do meio-dia partiu do Tejo rumo a Sul, três dias depois faria a travessia de Gibraltar em menos de 40 minutos, acompanhado de outro abutre-preto, num dia onde também atravessaram o estreito 3500 grifos e 4 grifos-de-Rüppell (dados fornecidos pela Fundación Migres). Dia 5 de novembro, pernoitava numa zona montanhosa a escassos quilómetros do deserto Saara, preparando-se para uma travessia de 10 dias sobre este deserto. Durante a travessia, Caravela dormiu todas as noites em locais espetaculares, como no topo de dunas, perto de Oásis ou até junto ao Olho de África (The Richat Structure). Finalmente, a dia 19 de novembro, parece ter-se fixado numa zona rural do Senegal, na região de Tambacounda, onde tem passado os últimos dias a procurar alimento junto às explorações de gado.

Movimentos registados no Senegal

O abutre-preto na Península Ibérica não tem estatuto migratório, no entanto já se verificaram alguns casos de abutres pretos juvenis a cruzarem o estreito de Gibraltar e viajarem para a África subsaariana.  A Fundación Migres confirmou a passagem de 31 abutres pretos desde 1999. O Caravela é o oitavo registo da espécie conhecido no Senegal.

Este acontecimento salienta a importância de conhecer mais aprofundadamente e publicar informação sobre o comportamento dos abutres pretos, espécie ainda pouco conhecida, embora o seu estatuto de conservação seja muito desfavorável (Criticamente em Perigo em Portugal e Quase Ameaçado à escala mundial).

O primeiro ano de vida é sempre o mais perigoso na vida de qualquer animal, por isso esperamos ansiosos pelo regresso seguro do Caravela à Península Ibérica, quem sabe na próxima primavera ou outono.

Veja aqui o vídeo desta viagem do Caravela até ao Senegal:

 

 

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