No começo do mês de novembro, decorreu o segundo encontro da equipa de Comunicação das várias áreas rewilding europeias, das quais a Rewilding Europe é responsável. Um dos objetivos desta equipa é disseminar esta abordagem de conservação, gerando assim orgulho e apoio público para a amplificação dos esforços de rewilding por toda a Europa. Depois de um primeiro encontro na Holanda, ainda antes da pandemia, o segundo encontro foi realizado em Portugal, organizado pela Rewilding Portugal, e serviu para criar pontes, fortalecer laços e trabalhar em estratégias conjuntas para o futuro.
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A abordagem de rewilding e especificamente da Rewilding Portugal tem passado sempre por trabalhar em equipas multidisciplinares com diferentes valências, que com as suas especificidades e “know-how” dão importantes contributos para que o rewilding no nosso país e na Europa possa continuar o seu crescimento. Para além da componente mais técnica de ecologia e trabalho de campo, é cada vez mais importante a função que a comunicação tem para o sucesso deste tipo de projetos e iniciativas, já que esta potencia um contacto direto com o público em geral e com as comunidades locais, determinantes para que o rewilding prospere e tenha efeitos práticos visíveis, já que o elemento humano pertence nas paisagens e deve ser integrado nas mesmas num modelo de coexistência que efetivamente funcione.. Foi este mote que levou esta equipa de comunicação a realizar o seu segundo encontro, que decorreu no começo de novembro no Grande Vale do Côa, em Portugal.
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Depois de um primeiro encontro realizado ainda antes da pandemia na sede da Rewilding Europe, nos Países Baixos, entendeu-se que este seria o momento ideal para uma das áreas rewilding apresentar o trabalho desenvolvido até então no terreno e mostrar os impactos positivos que o rewilding já está a trazer para as paisagens, para as comunidades e para o tecido empresarial, tendo o Grande Vale do Côa e a Rewilding Portugal tido o enorme prazer de serem escolhidos como primeira área rewilding a acolher este tipo de eventos. Participaram no total, para além da equipa central, os técnicos de comunicação de oito das dez áreas rewilding que existem neste momento: Danube Delta, Rhodope Mountains, Spain, Oder Delta, Velebits, Portugal, Apennines e Affric Highlands.
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Para além de várias sessões de trabalho teóricas realizadas ao longo de quatro dias no Centro Rewilding, em Vale de Madeira, que foi o local escolhido para acolher mais um evento desta dimensão, houve ainda oportunidade para os participantes terem um contacto mais direto com a oferta turística e de produtos locais que a Rede Côa Selvagem já tem para oferecer. Aliás, todas as experiências realizadas e todos os produtos consumidos durante estes dias são já ofertas disponíveis no âmbito desta rede, que se está cada vez mais a tornar autossuficiente e a ter soluções suficientes para pacotes completos de visitação e degustação.
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Para além de uma dormida inicial na Quinta do Rio Noémi (Guarda), que serviu de porta de entrada à região do Grande Vale do Côa, o grupo contou com uma visita noturna às gravuras paleolíticas realizada pelo guia Marco Ferraz (da Ambieduca), para conhecer em maior detalhe a expressão artística que nos dá a conhecer as espécies mais emblemáticas que outrora abundavam na região e cujas funções de herbivoria e pastoreio natural se estão agora a trazer de volta através dos esforços de rewilding levados a cabo no terreno. Uma viagem ao passado para entender o potencial da paisagem no futuro.
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A nível de visitação, o grupo teve ainda a oportunidade de conhecer duas das áreas rewilding geridas pela Rewilding Portugal: o Ermo das Águias (Pinhel), em visita guiada realizada pelo técnico de conservação da Rewilding Portugal André Couto; e Paul de Toirões (Almeida), visita guiada pelo guia Fernando Romão (da Wildlife Portugal). No último dia da experiência, o grupo teve também uma experiência de observação de abutres num abrigo fotográfico na região, também através da Wildlife Portugal. Para além disso, o Cró Hotel (Rapoula do Côa) e a Casa Villar Mayor (Vilar Maior), dois dos alojamentos da Rede Côa Selvagem, foram também visitados para a realização de algumas das refeições desta experiência.
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Ao longo de toda esta semana, todas as refeições realizadas no Centro Rewilding foram confeccionadas pelo chef Miguel Veiga, também membro da rede especialista neste tipo de serviços de catering vegetariano/vegan, que foi desafiado ao longo destes dias a realizar a ementa tendo apenas por base produtos de vários produtos da rede, nomeadamente Matreira, Ambombagas, Quinta das Baganhas etc. Tarefa cumprida com sucesso e muito elogiada ao longo de todo o evento, numa parceria que vem cada vez mais sendo desenvolvida e estreitada nos últimos anos.
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O grupo teve ainda a oportunidade de conhecer todo o trabalho de comunicação que vem sendo realizado pela Rewilding Portugal no Grande Vale do Côa e de experienciar “in loco” a ligação estreita que a Rewilding Portugal vem desenvolvendo com as comunidades locais das zonas envolventes às suas áreas rewilding. Para isso mesmo, a nossa organização dinamizou um magusto comunitário tradicional aberto à comunidade de Vilar Maior e a todos os interessados, para dar a conhecer ao grupo esta tradição tão portuguesa que ainda é tão habitual nesta região e que tornou visual e palpável esta excelente relação que vem sendo construída com as populações locais, tendo tido o magusto uma ótima adesão por parte da comunidade que não perdeu a oportunidade de participar neste momento de confraternização e partilha. O evento contou ainda com um concerto de fados do fadista Artur Conde, que aqueceu corações e almas, afastando o frio com o cair da noite.
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