Segundo Encontro de Comunicação realizou-se no Grande Vale do Côa

Novembro 24, 2022

No começo do mês de novembro, decorreu o segundo encontro da equipa de Comunicação das várias áreas rewilding europeias, das quais a Rewilding Europe é responsável. Um dos objetivos desta equipa é disseminar esta abordagem de conservação, gerando assim orgulho e apoio público para a amplificação dos esforços de rewilding por toda a Europa. Depois de um primeiro encontro na Holanda, ainda antes da pandemia, o segundo encontro foi realizado em Portugal, organizado pela Rewilding Portugal, e serviu para criar pontes, fortalecer laços e trabalhar em estratégias conjuntas para o futuro.

Foto de grupo. Créditos: Nelleke de Weerd
Nelleke de Weerd

A abordagem de rewilding e especificamente da Rewilding Portugal tem passado sempre por trabalhar em equipas multidisciplinares com diferentes valências, que com as suas especificidades e “know-how” dão importantes contributos para que o rewilding no nosso país e na Europa possa continuar o seu crescimento. Para além da componente mais técnica de ecologia e trabalho de campo, é cada vez mais importante a função que a comunicação tem para o sucesso deste tipo de projetos e iniciativas, já que esta potencia um contacto direto com o público em geral e com as comunidades locais, determinantes para que o rewilding prospere e tenha efeitos práticos visíveis, já que o elemento humano pertence nas paisagens e deve ser integrado nas mesmas num modelo de coexistência que efetivamente funcione.. Foi este mote que levou esta equipa de comunicação a realizar o seu segundo encontro, que decorreu no começo de novembro no Grande Vale do Côa, em Portugal.

Área rewilding do Ermo das Águias. Créditos: Nelleke de Weerd
Nelleke de Weerd

Depois de um primeiro encontro realizado ainda antes da pandemia na sede da Rewilding Europe, nos Países Baixos, entendeu-se que este seria o momento ideal para uma das áreas rewilding apresentar o trabalho desenvolvido até então no terreno e mostrar os impactos positivos que o rewilding já está a trazer para as paisagens, para as comunidades e para o tecido empresarial, tendo o Grande Vale do Côa e a Rewilding Portugal tido o enorme prazer de serem escolhidos como primeira área rewilding a acolher este tipo de eventos. Participaram no total, para além da equipa central, os técnicos de comunicação de oito das dez áreas rewilding que existem neste momento: Danube Delta, Rhodope Mountains, Spain, Oder Delta, Velebits, Portugal, Apennines e Affric Highlands.

Troca de conhecimentos entre áreas rewilding. Créditos: Laurien Holtjer

Para além de várias sessões de trabalho teóricas realizadas ao longo de quatro dias no Centro Rewilding, em Vale de Madeira, que foi o local escolhido para acolher mais um evento desta dimensão, houve ainda oportunidade para os participantes terem um contacto mais direto com a oferta turística e de produtos locais que a Rede Côa Selvagem já tem para oferecer. Aliás, todas as experiências realizadas e todos os produtos consumidos durante estes dias são já ofertas disponíveis no âmbito desta rede, que se está cada vez mais a tornar autossuficiente e a ter soluções suficientes para pacotes completos de visitação e degustação.

Sessões de trabalho no Centro Rewilding. Créditos: Nelleke de Weerd
Nelleke de Weerd

Para além de uma dormida inicial na Quinta do Rio Noémi (Guarda), que serviu de porta de entrada à região do Grande Vale do Côa, o grupo contou com uma visita noturna às gravuras paleolíticas realizada pelo guia Marco Ferraz (da Ambieduca), para conhecer em maior detalhe a expressão artística que nos dá a conhecer as espécies mais emblemáticas que outrora abundavam na região e cujas funções de herbivoria e pastoreio natural se estão agora a trazer de volta através dos esforços de rewilding levados a cabo no terreno. Uma viagem ao passado para entender o potencial da paisagem no futuro.

Visita noturna às gravuras com a Ambieduca. Créditos: Nelleke de Weerd
Nelleke de Weerd

A nível de visitação, o grupo teve ainda a oportunidade de conhecer duas das áreas rewilding geridas pela Rewilding Portugal: o Ermo das Águias (Pinhel), em visita guiada realizada pelo técnico de conservação da Rewilding Portugal André Couto; e Paul de Toirões (Almeida), visita guiada pelo guia Fernando Romão (da Wildlife Portugal). No último dia da experiência, o grupo teve também uma experiência de observação de abutres num abrigo fotográfico na região, também através da Wildlife Portugal. Para além disso, o Cró Hotel (Rapoula do Côa) e a Casa Villar Mayor (Vilar Maior), dois dos alojamentos da Rede Côa Selvagem, foram também visitados para a realização de algumas das refeições desta experiência.

Visita ao Ermo das Águias. Créditos: Nelleke de Weerd
Nelleke de Weerd

Ao longo de toda esta semana, todas as refeições realizadas no Centro Rewilding foram confeccionadas pelo chef Miguel Veiga, também membro da rede especialista neste tipo de serviços de catering vegetariano/vegan, que foi desafiado ao longo destes dias a realizar a ementa tendo apenas por base produtos de vários produtos da rede, nomeadamente Matreira, Ambombagas, Quinta das Baganhas etc. Tarefa cumprida com sucesso e muito elogiada ao longo de todo o evento, numa parceria que vem cada vez mais sendo desenvolvida e estreitada nos últimos anos.

Serviço de catering do chef Miguel Veiga. Créditos: Nelleke de Weerd
Nelleke de Weerd

O grupo teve ainda a oportunidade de conhecer todo o trabalho de comunicação que vem sendo realizado pela Rewilding Portugal no Grande Vale do Côa e de experienciar “in loco” a ligação estreita que a Rewilding Portugal vem desenvolvendo com as comunidades locais das zonas envolventes às suas áreas rewilding. Para isso mesmo, a nossa organização dinamizou um magusto comunitário tradicional aberto à comunidade de Vilar Maior e a todos os interessados, para dar a conhecer ao grupo esta tradição tão portuguesa que ainda é tão habitual nesta região e que tornou visual e palpável esta excelente relação que vem sendo construída com as populações locais, tendo tido o magusto uma ótima adesão por parte da comunidade que não perdeu a oportunidade de participar neste momento de confraternização e partilha. O evento contou ainda com um concerto de fados do fadista Artur Conde, que aqueceu corações e almas, afastando o frio com o cair da noite.

Magusto comunitário em Vilar Maior. Créditos: Nelleke de Weerd
Nelleke de Weerd

 

O rewilding tem também muito a ver com pessoas e com o seu papel na paisagem e na sua preservação e restauro. Juntar pessoas, unir comunidades locais e valorizar/preservar as suas tradições é fundamental para criar laços e sinergias, pôr em evidência a identidade única destes territórios e mostrar que as pessoas fazem parte da paisagem e que esta pode gerar novas oportunidades entusiasmantes. E este tipo de eventos acaba por colocar em evidência essa essência cultural e territorial tão única que nos liga a todos. Por isso mesmo o rewilding é por uma natureza mais selvagem, mas na qual as pessoas nunca são esquecidas, mas antes integradas na mesma missão.
Casa Villar Mayor. Créditos: Nelleke de Weerd
Nelleke de Weerd
Este encontro revelou-se então um grande impulso para estreitar cada vez mais a colaboração entre as várias áreas rewilding e ainda como uma inspiração para partilhar cada vez mais com o público e com as pessoas os benefícios de natureza mais selvagem e inspirar outras pessoas a envolverem-se também de forma mais ativa nesta abordagem de conservação de natureza. Foi com enorme prazer e orgulho que a Rewilding Portugal acolheu este evento, do qual a organização saiu também mais fortalecida e motivada para o futuro, depois de uma partilha de conhecimento e experiências tão positiva e impactante.
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