Rede Côa Selvagem: entrevista com o chef Miguel Veiga

Novembro 20, 2023

O chef Miguel Veiga é um dos parceiros mais antigos da Rewilding Portugal, tendo já realizado serviços de catering em diversos eventos da organização e fazendo já parte desta grande família. Recentemente, tornou-se também membro da Rede Côa Selvagem para estreitar ainda mais esta ligação e aumentar as sinergias com outros membros.

Apresenta-nos o teu projeto de catering, assim como os vários produtos que tens neste momento disponíveis para venda ao público no âmbito da tua atividade.

Ora bem, o meu projeto “Chef Chez Toi” começou em 2008, quando comecei a fazer o meu próprio seitan, que se chamava “Seitan666” e era vendido em embalagens de aproximadamente 666gr. Entretanto, na mesma altura, começaram a ser feitos jantares de amigos, onde quase sempre cozinhava eu e foi após visitar Nova Iorque, onde fui ver uma escola de cozinha vegetariana, que fiquei com o bichinho de me profissionalizar nessa área da cozinha. Com a crise dessa altura, o preço do curso aumentou, o que me fez optar antes por regressar a Londres, onde já tinha morado antes e trabalhar em restaurantes vegetarianos para aprender o ofício a um nível mais profissional. Regressei a Portugal no verão de 2010 e em 2011 inscrevi-me num curso de cozinha de um ano, na Escola Superior de Turismo e Hotelaria, para atestar os meus conhecimentos na área da cozinha que tinha trazido de fora. O projeto surgiu então oficialmente aí e foi ganhando força com o passar do tempo. Neste momento sirvo refeições na nossa Quinta das Vinte Quelhas, na Aldeia Viçosa, no Vale do Mondego, e também vou cozinhar a casa das pessoas que pedem. Tenho também serviço de takeaway semanais, com um pack de cinco refeições que podem ser congeladas e usadas depois e que podem ser levadas para o trabalho por exemplo. Criei também vários produtos únicos nos últimos anos: os sete veganBurgers; um caldo de ramen totalmente vegano, patés fermentados, granola caseira e produzo também diversos produtos hortícolas na quinta, pois acho que a comida deve ser sempre feita de acordo com a sazonalidade. Todos estes produtos estão disponíveis por encomenda. Além disso, dou workshops, faço serviços de caterings e casamentos, e ainda saídas de campo por altura dos cogumelos selvagens, um ingrediente que adoro e em relação ao qual procuro saber sempre mais.

 

Tens realizado inúmeros serviços de catering externos para a Rewilding Portugal, incluindo em grandes eventos. Como olhas para esta crescente colaboração?

Têm sido cada vez mais os eventos que tenho feito para a Rewilding Portugal e é algo que me deixa contente, em primeiro lugar porque é uma organização com a qual me identifico muito… Adoro a Natureza e acho que Portugal está longe de ter uma biodiversidade equilibrada, falta-nos muito a presença de fauna, nomeadamente de grandes herbívoros que possam auxiliar na “limpeza” da vegetação. Olho portanto para esta colaboração com bons olhos e muita felicidade pois fico a par das várias atividades e iniciativas que vão sendo feitas e fico extremamente contente de poder ter um pequeno papel nesta grande engrenagem, deixando as pessoas de barriga cheia e sorriso na cara com o que lhes vou servindo.  Acho que uma ligação com os produtos endógenos da nossa área e a área onde a Rewilding trabalha, e alguém que os confecione ou apresente numa refeição, é uma mais-valia tanto para a região, que se vai dando a conhecer “aquém e além fronteira”, assim como para a economia local, pois quem vem de fora passa a palavra, podendo gerar mais e mais interesse em conhecer esta região do Interior.

 

Entretanto, entraste para a Rede Côa Selvagem, tanto com o catering como com produtos alimentares. Como olhas para as mais valias que esta rede pode vir a trazer para o teu negócio?

Julgo que esta rede irá beneficiar-me a mim bem como a outros membros, pois é uma forma de dar a conhecer o que por aqui se faz quer seja em matéria de produtos endógenos, bem como de serviços. Não há melhor publicidade que a do passa-palavra e se alguém gostar do que levou daqui, irá certamente falar disso a outras pessoas, criando assim uma certa curiosidade nos outros e que poderá resultar em mais gente a querer experienciar essas mesmas vivências, trazendo-as cá e a consumir o que de bom por cá se produz.

 

Tens desenvolvido muito dos teus serviços utilizando as instalações do Centro Rewilding. Consideras este espaço uma mais-valia para a região? Porquê?

Sem dúvida que o Centro Rewilding de Vale de Madeira é uma mais-valia para a região, pois além de se encontrar perto de áreas geridas pela Rewilding Portugal e da bela praia fluvial no rio Côa logo ali ao lado, está numa aldeia característica da região e com uma população envelhecida, algo comum pelo Interior de Portugal. Além disso, tem uma excelente localização geográfica! Está coladinho a Pinhel, a cidade Falcão com o seu castelo Medieval, uma boa zona vitivinícola, bons artesãos locais e ainda terra das famosas Cavacas. E fica perto de vários pontos históricos e especiais da região também: Trancoso, Moreira do Rei, Mêda, Marialva, Longroiva, Almeida, Guarda… Fica também bem perto do Douro e da foz do rio Côa, com o seu mítico núcleo de gravuras rupestres que é sem dúvida um local mágico também. E está também em proximidade com o Parque Natural da Serra da Estrela. Acho mesmo que o Centro Rewilding de Vale de Madeira é um excelente sítio para usar como “base de operações” para o turista ficar e explorar esta nossa região. Com o desenvolvimento deste espaço, podem desenvolver-se também pequenos negócios de vários quadrantes na região envolvente, o que pode ser uma inversão da tendência de que nestas aldeias só vive uma população envelhecida, pois cria-se novamente uma economia regional, agora baseada na natureza. Basta ver que: o pastor local tem agora cão de gado integrado pela Rewilding Portugal; que existem jovens da região que agora pertencem à patrulha de campo da organização, tendo esse papel fundamental na prevenção de incêndios; a dona do antigo café da aldeia a proporcionar-me vegetais da sua horta para eu servir… O rewilding cria vida, numa aldeia com muita pouca gente, com o turismo de natureza a ser um diamante em bruto nesta região.

 

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