Qual o futuro que queremos para a Serra da Estrela?

Setembro 1, 2022

Depois da catástrofe ambiental deste verão na Serra da Estrela, em que pelo menos 25 mil hectares arderam em incêndios sucessivos ao longo de várias semanas, é fundamental juntar todas a partes interessadas no território e a nível nacional para a elaboração de uma proposta séria e realista para a recuperação ambiental do Parque Natural da Serra da Estrela. Nesse sentido, a Rewilding Portugal enviou uma proposta de medidas de restauro ecológico urgentes a vários atores-chave do território e com responsabilidades nesta matéria.

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Créditos: Agata Rucin / Rewilding Portugal

Os incêndios estivais deste ano foram de uma gravidade sem precedentes e tiveram severos impactos nos ecossistemas da serra, o que levará a uma perda substancial do capital natural da região, se nada for feito de imediato e com uma visão a longo prazo. A Rewilding Portugal apoia que se crie uma paisagem mais resiliente ao fogo, mais funcional do ponto de vista dos ecossistemas, e mais biodiversa e abundante em fauna e flora.

Nesse sentido, a Rewilding Portugal enviou uma proposta de medidas de restauro ecológico urgentes a vários atores-chave do território e com responsabilidades nesta matéria – incluindo todas as câmaras municipais da Serra da Estrela, o ICNF e a APA. Esta proposta inclui intervenções a curto, médio e longo prazo com o fim de recuperar a Serra da Estrela e evitar que estes incêndios catastróficos se repitam no futuro. Foram também incluídas medidas, algumas das quais já utilizadas em situações semelhantes anteriormente, que são desaconselhadas para uma efetiva recuperação da Serra da Estrela.

Créditos: Agata Rucin / Rewilding Portugal

Entre as medidas que a Rewilding Portugal aconselhou para implementação a curto prazo (antes do final de 2022) destacam-se o corte e disposição de madeira morta para construção de paliçadas de prevenção de erosão, nomeadamente em zonas de maior declive, a realização de sementeiras de emergência para prevenir a erosão dos solos e preservar a fauna sobrevivente; intervir nas linhas de água afetadas para estimular o crescimento de vegetação ripícola e acelerar a recuperação destes ecossistemas; e ainda melhorar a captação de água na paisagem como prevenção a futuros incêndios com a construção de pequenas charcas e zonas de alagamento na paisagem.

Quanto a medidas para implementação a médio e longo prazo prazo (a partir de 2023), destacam-se aqui: manutenção e ampliação da rede de prevenção de incêndios através do aumento de herbivoria e reintrodução de espécies-chave de herbívoros selvagens e semisselvagens, nomeadamente cavalos (por exemplo de raça Garrana), veado e cabra-montesa e ainda incrementar o número de corços; a criação de um Plano Integral de Gestão Florestal para a Serra da Estrela para a próxima década e que tenha em conta o panorama de alterações climáticas expectável para o futuro, assegurando a continuidade da sucessão florestal para que esta possa recuperar e tornar-se novamente numa área de elevado valor natural em Portugal.

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Créditos: Agata Rucin / Rewilding Portugal

Por último, a Rewilding Portugal desaconselha as seguintes medidas neste âmbito: campanhas de plantação de árvores (a taxa de insucesso destas árvores vindas de viveiros e maioritariamente com crescimento lento é altamente elevada e não há acompanhamento a longo prazo, necessário para que resulte, nomeadamente pinheiros e pseudotsugas, sendo que mesmo as árvores autóctones devem ser plantadas apenas em áreas em que o banco de sementes esteja demasiado empobrecido e que a dispersão natural possa ser mais demorada); e a construção de barragens (estas estruturas têm impactos negativos ambientais, implicam grandes alterações da paisagem e estão dependentes de fluxos de água constante para as abastecer).

A Rewilding Portugal espera que este documento, e as medidas extensivamente elencadas e explicadas/fundamentadas que este contém, possam servir de apoio aos decisores sobre como actuar a curto, médio e longo-prazo na Serra da Estrela para garantir que no futuro tenhamos uma serra mais resiliente e próspera como é certamente desejo de todos.

Créditos: Agata Rucin / Rewilding Portugal

Acima de tudo, dada a situação de calamidade ambiental, social e económica que os incêndios (especialmente de 2017 e 2022) provocaram, esta deve ser encarada como uma oportunidade de repensar o futuro do Parque Natural da Serra da Estrela para os próximos 100 anos.

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