Direito de resposta a notícia falaciosa sobre libertação de lobos-ibéricos na Serra de Montemuro pelo Correio da Manhã

Março 9, 2023

A Rewilding Portugal pediu a publicação e difusão deste direito de resposta no Correio da Manhã (versão escrita) e na CMTV (versão televisiva), relativamente a uma notícia/reportagem falaciosa publicada nestes orgãos de comunicação no dia 4 de março de 2023, que apresentamos também por esta via.

A subpopulação de lobo ibérico a sul do rio Douro está fragmentada e em risco de extinção. Crédito: João Cosme | Rewilding Europe.

 

Transcreve-se abaixo o pedido de direito de resposta enviado no dia 9 de março de 2023, pelas 11 horas da manhã ao Correio da Manhã:

 

“A Rewilding Portugal vem por este meio pedir a publicação e difusão deste direito de resposta no Correio da Manhã (versão escrita) e na CMTV (versão televisiva), relativamente a uma notícia/reportagem falaciosa publicada nestes orgãos de comunicação no dia 4 de março de 2023.

Esta notícia, da autoria de José Luís Oliveira, aborda um suposto ataque de lobo a um rebanho de ovelhas em Castro Daire, no distrito de Viseu, mencionando, no  formato escrito, que “Os lobos terão sido colocados na Serra de Montemuro para difundir a espécie”. Acresce uma menção do próprio jornalista na reportagem televisiva feita no local que “um conjunto de lobos foi colocado aqui na Serra de Montemuro” e ainda que “Há quem coloque aqui os lobos porque dizem eles que é uma espécie que é preciso difundir, mas de certa forma promovem o lobo e matam as ovelhas”.

A Rewilding Portugal repudia todas estas declarações e afirmações proferidas pelo jornalista em questão, que demonstra em toda esta peça não ter realizado qualquer tipo de preparação ou verificação dos factos, tecendo afirmações muito graves e até de conteúdo técnico e especializado sem qualquer domínio sobre o assunto.

A Rewilding Portugal vem reforçar o facto de, em Portugal, NUNCA ter sido  realizada uma reintrodução de um único lobo-ibérico na natureza até ao momento, sendo que não existe  nenhuma organização ou projeto que trabalhe para este fim. O próprio Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), responsável pela regulação de toda e qualquer reintrodução em Portugal, poderá confirmar que tal nunca foi realizado no nosso país e que todos os projetos de conservação relacionados com o lobo-ibérico, como é o caso do LIFE WolFlux gerido pela Rewilding Portugal, e que conta aliás com uma carta de apoio do próprio ICNF, não têm qualquer tipo de ações de reintrodução de lobo-ibérico previstas na sua execução. Além do mais, existem procedimentos oficiais e formais para a verificação se um ataque se trata de um ataque de lobo-ibérico ou de cães, sejam eles assilvestrados ou não, pelo que afirmar que se tratou de um ataque de lobo-ibérico sem averiguar se foram seguidos os procedimentos oficiais ou inquirir a entidade governamental competente constituiu ma abordagem errada ao assunto.. O facto de na peça não ter sido apresentada (ou solicitada) qualquer informação a especialistas da área e especialistas na espécie e neste tipo de ataques constitui também um atropelo ao código deontológico e às boas práticas jornalísticas. Em áreas sem presença de lobo-ibérico, são registados todos os anos ataques de cães ao gado e até em áreas de presença de lobo-ibérico existe uma grande sobreposição entre ataques de cão e de lobo. Num estudo realizado pela Universidade de Aveiro, pela Rewilding Portugal e pela Zoo Logical, sobre ataques a gado na regiões da Guarda, Viseu e Aveiro, onde se analisou geneticamente a presença de cão e de lobo-ibérico nos ferimentos dos animais atacados entre 2019 e 2021,  verificou-se que em 62% dos ataques apenas se confirmou a presença de cães.

Posto isto, o LIFE WolFlux e outros projetos de conservação de lobo-ibérico que existem em Portugal têm estado a apoiar esta espécie não através da sua reintrodução, mas através da melhoria das condições de subsistência e coexistência para que a mesma possa prosperar: restauro de habitats de refúgio para o lobo e as suas presas (em parceria com diferentes associações de caça), integração de cães de gado e instalação de vedações à prova de lobo (fixas e elétricas) para aumentar a proteção do gado e reduzir o número de ataques à pecuária.

A Rewilding Portugal tem tido portanto um papel ativo e importante na melhoria da coexistência entre as populações locais e o lobo-ibérico, participando ativamente na reduçãodo número de ataques e mitigação do seu impacto, aconselhando, sempre que necessário e solicitado,  os produtores na burocracia inerente ao processo de declaração e compensação de prejuízos. Um trabalho que leva já quatro anos no terreno e que tem tido resultados muito positivos e que esta notícia, sem qualquer verificação de factos e totalmente falaciosa e sensacionalista, pôs em causa, tentando criar medo e receio junto dos produtores de gado e assim comprometer tantos anos de trabalho na proteção desta espécie em Portugal.

Além disso, ao colocar em causa o trabalho no terreno realizado por organizações como a Rewilding Portugal nesta matéria, este levantamento de acusações sem qualquer tipo de fundamento e muito grave, está também a atentar contra os técnicos da nossa organização que todos os dias estão no terreno a trabalhar para melhorar esta coexistência e que, com este tipo de notícias, podem vir a sofrer represálias no exercício das suas funções, apenas pela desinformação veiculada num orgão de comunicação nacional.

Assim sendo, a Rewilding Portugal exige a publicação deste direito de resposta pelo próprio orgão de comunicação em causa e lamenta profundamente que, num orgão de comunicação social que tem responsabilidades a nível nacional por ser um dos mais lidos e ouvidos no nosso país, sejam publicadas notícias que apresentam tamanho desconhecimento e desinformação e que colocam em causa o trabalho de conservação de uma espécie que vem sendo desenvolvido, como acontece neste caso. Reiteramos que não pode valer tudo nestes casos.”

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