A dupla de fotógrafos Blue Nomads, composta pelo casal Susana Silvestre e Ricardo Ferreira, passou praticamente duas semanas a realizar uma missão fotográfica no Grande Vale do Côa, com o objetivo de captar através das suas lentes o trabalho realizado pela Rewilding Portugal, assim como todo o património natural da região envolvente. Pelas suas próprias palavras, viajemos neste artigo com esta dupla incrível para saber melhor como foi esta experiência.
Depois de mais de 12 anos com trabalhos convencionais de escritório, achámos que estaria na altura de novas aventuras e uma maior conexão com este planeta maravilhoso a que chamamos casa. Mas, mais do que isso, o que nos motivou a mudar de vida foi uma procura pelo contacto com a Natureza de modo a poder ajudar a preservar o meio natural que nos rodeia.
Após alguns anos fora de Portugal, tivemos a oportunidade de nos instalarmos em África e trabalharmos com várias organizações de conservação de vida selvagem, incluindo no continente africano. É de uma tremenda alegria observar a transformação de ambientes e ecossistemas, onde fauna e flora voltam a prosperar de uma maneira natural quando medidas efetivas são implementadas e, acima de tudo, monitorizadas.
Neste sentido, foi com um enorme prazer e satisfação que aceitámos o desafio da Rewilding Portugal para colaborarmos numa missão fotográfica ao Grande Vale do Côa em Maio de 2021, com o objetivo de registar o valioso trabalho e esforços de toda a equipa da Rewilding Portugal, assim como os importantes resultados obtidos ao longo dos anos, tendo em vista a preservação do meio ambiente e da vida selvagem.
Foi efetivamente gratificante acompanhar durante 10 dias o trabalho diário realizado no campo, de forma a ter uma maior perceção dos desafios existentes para alcançar os objetivos a que se propõem e restaurar o meio ambiente. Não é, de todo, um trabalho fácil. Na verdade, é muitas vezes inglório, pois mentalidades enraizadas ao longo dos anos levam o seu tempo a mudar e é necessária muita resiliência e motivação para continuar todos os dias e nunca perder o foco. No entanto, a disponibilidade das pessoas para uma mudança e os resultados positivos alcançados com tanta determinação, fazem esquecer tudo o que nos poderia colocar mais em baixo.
Um dia em particular, quando nos deslocávamos para a zona do Côa, observámos dois ninhos de grifos numa escarpa e, imediatamente, parámos para podermos observar. Incrível como nos esquecemos tão facilmente de que aves como estas costumavam ser uma visão constante pelos céus de toda a Europa e, hoje, ficamos em êxtase quando os podemos observar, como se fossem espécies que apenas pertencessem a outros continentes, nomeadamente a África.
Outro momento que nos marcou foi, sem dúvida, o dia em que acompanhámos a equipa de patrulha de campo. Isto porque, mais uma vez quando pensamos em rangers ou guardas-florestais, imediatamente pensamos na realidade dos parques nacionais africanos e em como é importante proteger animais como o elefante ou o rinoceronte. Sim, claro que é importante, mas é igualmente importante proteger animais de continentes vistos como urbanos num todo, como é o caso da Europa ou da América do Norte, onde facilmente nos esquecemos que também ali há lugares que deveriam idealmente permanecer selvagens.
Detalhes simples como termos cavalos selvagens que percorram corredores naturais pela Europa, passam ao lado da maioria de nós que vivemos presos a uma vida na cidade e alheados do que realmente importa para as futuras gerações. Programas como o do LIFE WolFlux ou da renaturalização do Grande Vale do Côa, desenvolvidos pela Rewilding Portugal, são por isso de extrema importância. São programas tao importantes comos os mais variados programas de conservação de rinocerontes ou de elefantes, e é esta a mensagem que temos de passar, começar cá dentro e então depois ajudar lá fora.
Sem dúvida que esta colaboração com a Rewilding Portugal nos fez voltar a ver a realidade dos ecossistemas em Portugal e no resto da Europa de uma maneira totalmente diferente e mais completa.
por Blue Nomads (Ricardo Ferreira e Susana Silvestre)