Poucos meses depois da descoberta de uma colónia de Abutre-preto na Reserva Natural da Serra da Malcata, por parte da equipa da Rewilding Portugal, trazemos agora notícias entusiasmantes e muito positivas, relativamente a outra nova colónia de aves necrófagas encontrada, desta vez de grifos.
Em novembro de 2021, a Rewilding Portugal confirmou a existência de uma colónia de abutre-preto (Aegypius monachus), na qual se confirmou sucesso reprodutor em vários casais na Reserva Natural da Serra da Malcata em 2021. Esta foi na altura uma excelente notícia para uma espécie que está ainda criticamente ameaçada em Portugal e da qual apenas se conhecem cerca de 40 casais, a maior parte deles distribuídos em duas colónias principais no Parque Natural do Tejo Internacional e no Alentejo.
Poucos meses depois, existe mais um bom indicador da recuperação gradual das aves necrófagas nesta região do país, com uma nova descoberta de colónia nesta reserva natural, desta vez de grifos. Pedro Ribeiro, técnico de campo responsável pela monitorização de aves necrófagas da Rewilding Portugal, explica-nos como surgiu esta nova descoberta, depois de ter sido ele a descobrir também a colónia de abutre-preto. “Durante o trabalho de campo identifiquei alguns grifos pousados num pequeno afloramento rochoso, a mais de 1 quilómetro de distância. Pelo comportamento das aves e pela quantidade de dejetos nas pedras, suspeitei que estivesse a olhar para uma colónia. Semanas depois, , conseguimos confirmar um total de 7 ninhos ocupados e por isso uma nova colónia reprodutora”, conta-nos Pedro Ribeiro.
Os grifos estão em expansão no nosso país e na Europa. Embora estejam classificados como Quase Ameaçados em Portugal, nos últimos anos os seus números têm aumentado substancialmente, ocupando agora cada vez mais fragas pelas regiões Norte e Centro de Portugal, competindo por espaço com outras aves do nosso território como as águias-reais, os bufos-reais e as cegonhas-pretas.
Esta colónia agora descoberta na Serra da Malcata está localizada quase a meio caminho entre as duas maiores populações de grifos em Portugal, fazendo uma importante ponte entre as colónias do Tejo Internacional e do Douro Internacional, o que nos demonstra que a população continua a crescer e a fixar-se em novos locais.
Com o aumento destas aves, veremos um ecossistema mais funcional e com um ciclo de vida novamente completo, onde carcaças de animais mortos são limpas numa questão de horas, diminuindo por isso a disseminação de doenças. Um dia, quem sabe, estas aves terão o seu papel completamente restituído, beneficiando a economia portuguesa, com os serviços de ecossistema que prestam através da limpeza de cadáveres e também por serem um atrativo para o turismo de natureza.
A Rewilding Portugal continuará a acompanhar atentamente e no terreno a evolução do estado das aves necrófagas no Grande Vale do Côa.