A Brava é um dos grifos que está há mais tempo a ser monitorizado no âmbito do projeto Promover a Renaturalização do Grande Vale do Côa. A informação que está a ser recolhida sobre a Brava e outros grifos, permite-nos recolher informação importante para o conhecimento e para a conservação da espécie, como os seus hábitos alimentares, e os locais que escolhe como dormitório.
A Brava é um dos grifos que se encontra a ser acompanhado e monitorizado no âmbito do projeto Promover a Renaturalização do Grande Vale do Côa, graças à informação que é recolhida diariamente por um emissor GPS/GSM que lhe foi colocado em junho de 2019. A Brava tem um ninho em Portugal, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, próximo à Zona de Proteção Especial Vale do Côa e do Parque Natural do Douro Internacional. Apesar de passar algum do seu tempo e alimentar-se no Vale do Côa, os seus locais favoritos de alimento encontram-se em Espanha, às vezes a mais de 360 quilómetros do ninho, passando vários dias seguidos do outro lado da fronteira.
Os grifos têm áreas preferenciais, onde passam a maior parte do tempo e que visitam várias vezes ao longo do ano. Estas áreas de uso mais regular fazem parte da área vital do animal. Para além destas áreas visitadas com frequência, os grifos fazem voos exploratórios para novas áreas em busca de alimento. Por vezes, durante estes movimentos exploratórios, os animais encontram áreas de elevado interesse que começam a visitar regularmente, passando a fazer parte da sua área vital. Este comportamento exploratório varia entre indivíduos, com algumas aves a fazerem poucos movimentos exploratórios e apresentando áreas vitais muito pequenas, e outras aves que voam centenas de quilómetros em busca de novas áreas.
Podemos ver isto de forma clara com a Brava. Esta ave prefere sempre viajar para sul. Aliás o ponto mais a norte que visitou fica apenas a 10 quilómetros do seu ninho. A sua área vital é maior no verão, durante o período de reprodução que no outono, com áreas de maior uso a exceder os 12,000 quilómetros quadrados no primeiro caso face aos cerca de 4,000 quilómetros quadrados no segundo. Estes valores são muito superiores aos restantes quatro grifos monitorizados, que usam áreas perto dos 4,000 quilómetros quadrados. A apetência da Brava em fazer movimentos exploratórios também é notória, tendo percorrido mais de 60,000 quilómetros quadrados desde o início da sua monitorização, muito mais do que as restantes aves monitorizadas, que percorreram cerca de 11,000 quilómetros quadrados.
Um exemplo das grandes viagens transfronteiriças da Brava foi encontrado em junho do ano passado, quando em três dias percorreu mais de 600 quilómetros desde o Parque Natural da Serra de Hornachuelos (Córdoba, Espanha) até ao seu ninho, perto de Figueira de Castelo Rodrigo. Nestas viagens até Espanha, costuma usar sempre o corredor do Vale do Côa até chegar ao Tejo, altura em que varia os seus percursos, à procura de alimento.
Durante este período de dois anos, visitou sete campos de alimentação para aves necrófagas, tendo-se alimentado apenas uma vez em cada, cinco deles em Espanha e apenas dois deles em Portugal. Os dados mostram ainda que pernoitou em dois deles. No entanto, na maior parte das ocasiões a Brava, assim como os outros grifos monitorizados, encontra alimento em áreas com pecuária extensiva, nas paisagens de montado constituídas por florestas abertas e pastagens, alimentando-se das carcaças dos animais que morrem.
Quanto a locais onde dormiu, além da sua colónia, sabe-se que dormiu em 22 locais diferentes (os denominados “roost”), incluindo em diferentes colónias adjacentes à sua, não se sabendo exatamente o motivo pelo qual usa várias colónias como dormitório durante a época de reprodução, em vez de estar sempre perto do seu ninho, que até fica perto dos roost onde pernoitou. Os abutres tanto podem dormir perto dos seus ninhos durante a época de reprodução, como fora, principalmente quando estão em viagem para procurar comida, mas mesmo nesses casos costumam escolher regularmente os mesmos locais a que estão habituados.
Um dos principais motivos deve-se a que quando está mau tempo, estes não voam e têm de escolher um lugar seguro para passar não só a noite, mas também grande parte do dia, sendo por isso muito seletivos nessa escolha, já que podem ter de estar dois ou até mais dias abrigados de tempestades no mesmo local. Numa das suas últimas viagens de regresso vindo de Espanha, sabe-se que a Brava fez propositadamente um desvio da sua rota de 30 quilómetros para cada lado, apenas para passar a noite num dormitório que já usa há muito tempo, o que demonstra esta habituação que os grifos criam a determinados locais que usam para pernoitar.
“A Brava é um animal fascinante, que consegue voar centenas de quilómetros num só dia, mas isso dificulta muito a tarefa de a monitorizar”, revela-nos Pedro Ribeiro, técnico de campo da Rewilding Portugal. “Recentemente tem passado várias semanas seguidas em Espanha, voltando a Portugal apenas durante 4-5 dias e usa 3 locais distintos para dormir. Quando ela chega a Portugal temos de largar tudo para a ir procurar e ter a certeza que está bem de saúde e que se está a reproduzir normalmente. Nos últimos 2 meses apenas conseguimos vê-la 1 vez”, conclui.
A Rewilding Portugal está a mapear estes dormitórios e partilhará a informação com as autoridades portuguesas e espanholas, pois é relevante para o ordenamento territorial. Os dormitórios são locais onde se deve minimizar a perturbação, evitando alterar os usos do território e a presença de infraestruturas.
Pode acompanhar as viagens da Brava através do mapa interativo aqui presente.