A Michèle Trotta foi uma dos sete vencedores do concurso para artistas a nível internacional, selecionados então para desenvolver uma peça em materiais naturais no Grande Vale do Côa, no âmbito do festival CÔA – Corredor das Artes. Em entrevista fala sobre o seu trabalho e a sua experiência na região.
Como se sentiu ao participar no festival com uma criação artística da sua autoria?
Em primeiro lugar, senti-me muito bem recebida e apoiada em cada fase da construção do meu trabalho pela equipa do Museu do Côa e do festival, nomeadamente a Rewilding Portugal na organização. Senti-me também em sintonia com os valores defendidos pela Rewilding Portugal no trabalho que desenvolve no seu dia-a-dia. Foi uma óptima experiência numa paisagem magnífica e preservada.
Ficou satisfeita com a forma como a sua própria arte ajudou a envolver a população local com o rewilding e com o património natural e cultural do Grande Vale do Côa?
Em Vila Nova de Foz Côa, tentei criar uma peça de arte que partilhasse o mesmo espírito do Museu e do Vale do Côa e que se integrasse de uma forma muito respeitosa com o seu ambiente. Utilizei ramos de videira que remetem para o vinho produzido na região. Quanto às curvas da instalação, lembram as da paisagem com rios e margens. Os nós estão lá para interpelar o visitante e podem ser vistos como positivos ou negativos. Positivo no sentido em que os nós podem simbolizar ligações ou conexões fortes e negativo porque também podem remeter para algo problemático e fechado. Cabe ao visitante decidir. Como artista visual, considero que o meu papel é mostrar coisas que são familiares, mas de uma forma diferente. Ao quebrar os hábitos de olhar que nos levam a deixar de ver o que está à nossa frente, reactivamos a consciência das pessoas em relação ao seu ambiente. Espero que o meu trabalho ajude as pessoas a darem o passo em direção ao compromisso de preservação e rewilding do seu território.
Como é que acha que a sua obra de arte vai evoluir naturalmente na paisagem nos próximos anos? Era o local perfeito para ela existir?
Penso que a minha obra é um hotel de luxo para insectos. Reparei que as formigas, que estão muito presentes na encosta onde criaram uma “megacidade”, já têm ideias de como a podem utilizar! Os rebentos de videira evoluirão certamente com o tempo, sob a influência do vento e da chuva, e a instalação ficará certamente coberta de plantas e flores na primavera. Seja como for, este é sem dúvida o melhor sítio onde poderia ter instalado esta obra.