Reconhecida atriz a nível nacional, a Ana Varela esteve no último ano no Grande Vale do Côa com a colega e atriz Sara Prata, para juntas conhecerem a região e o trabalho da Rewilding Portugalnesta região. Apaixonou-se de imediato pelo que viu e conheceu e tem sido uma ligação que se tem estreitado e que vai ter um novo capítulo muito importante no próximo ano: a Ana vai ser a voz-off do novo documentário que temos em produção. Entretanto já regressou este ano com a família.
Como conheceste a Rewilding Portugal e o que te fez suscitar interesse na organização e no trabalho que desenvolve?
Conheci a Rewilding Portugal na Circular 2021, um projeto da Reboot que assentava em quatro pilares (Materiais, Energia, Natureza e Transportes) e o Pedro Prata, diretor da Rewilding Portugal, apresentou este projeto de preservação de natureza e interessou-me bastante este novo conceito (confesso que foi a primeira vez que ouvi falar nele) de renaturalização dos ecossistemas, este rewilding. Trocámos contactos e ficou logo a curiosidade para conhecer mais de perto este projeto e se há coisa que gozo me dá é conhecer os projetos por dentro, o trabalho no terreno e ver os seus impactos e transformações que traz. E foi isso que aconteceu e que experienciei depois quando visitei os projetos no terreno.
Entretanto surgiu a oportunidade de conheceres “in loco” o Grande Vale do Côa e o trabalho que a Rewilding Portugal vem desenvolvendo nos últimos anos. Como foi a experiência? O que mais te entusiasmou ou fascinou?
Primeiro, toda esta ideia de ir à aventura e ir para o terreno conhecer o trabalho da organização. Fui com a Sara Prata (minha colega, amiga e irmã), cheias de vontade de descobrir e conhecer. E segundo, porque o fizemos quase como turistas, já que ao conhecer o projeto íamos num modo “mostrem-nos o que está a acontecer aqui e os trabalhos que estão a desenvolver”. Foi muito interessante porque assistimos à libertação dos cavalos Sorraia em estado semisselvagem e percebemos o papel que este grande herbívoro tem na renaturalização destes espaços – mas não foi só a beleza desse momento de libertação e da envolvência, mas também foi muito bonito assistir a toda a envolvência social local da população e da equipa da Rewilding neste projeto. E isso foi o que mais me ficou, a união que está a ser conseguida com o grande objetivo de preservar as paisagens daquela região. Essa união é muito bonita, e isso foi exatamente o que mais me entusiasmou e fascinou. O Homem quando quer consegue unir-se para produzir mudanças positivas nos ecossistemas, neste caso no Grande Vale do Côa.
Tiveste também a oportunidade de te cruzares e usufruíres dos serviços e produtos de vários parceiros da Rede Côa Selvagem. O que achas deste projeto de turismo à volta do rewilding? Consideras que este tipo de oferta turística diferenciada e assente na preservação do património natural tem lugar no panorama atual?
Acho muito interessante a sinergia que está a ser conseguida. As pequenas marcas quando se querem lançar no mercado enfrentam grandes dificuldades de penetração nos mercados, grande concorrência, concorrência desleal face a empresas mais musculadas… Acho que ligar este turismo mais ligado à natureza, assente numa cadeia de valor que tem como missão preservar e não só a pura obtenção de rendimento, que usufrui desta mas a preserva, faz muito sentido. Faz muito sentido esta sinergia entre produtores e a Rewilding Portugal, como a Matreira e a Flor Alta, das quais pude experimentar vários produtos. São produtos locais, uma montra do que é feito da região e hoje em dia quando tu queres conhecer uma cidade específica, tu queres saber e provar o que é feito lá e de que forma. O facto de a Rewilding estar a reunir todos estes parceiros vai torná-los mais fortes e mais unidos. Uma sinergia que eu acho que, quando o turista a recebe, é muito bonita e tem muita força. Tem todo o lugar no panorama atual, deve ser apoiada. Sem esta rede talvez estes produtores locais não tivessem tanta visibilidade como agora têm. Produtos e, claro, serviços.
Enquanto figura reconhecida no mundo da televisão/cinema, assim como influenciadora digital, principalmente na área da sustentabilidade e do ambiente, qual achas ser a importância que esse tipo de papel pode ter para ajudar projetos de conservação de natureza? Como te vês nessa missão de dar a conhecer estes projetos e organizações? Como surgiu esta tua paixão pelo património natural e por esta causa?
Acho que se há algum impacto que posso ter é a amplificação dos projetos de que falo e por isso mesmo tenho sempre muito cuidado em que projetos escolho para amplificar. Por isso faz tanto sentido conhecer os projetos de que falo por dentro como conheci o trabalho da Rewilding, para quando o amplifico e partilho com a minha comunidade ter a certeza de que é merecedor dessa amplificação. O que mais desejo é que este meu papel pudesse dar, e tenho a certeza que dá, frutos e resultados para que este trabalho tão nobre e estas sinergias tão importantes para a regeneração ambiental e social destas regiões aconteçam. O facto de ter nascido no campo e ser neta de agricultores e pessoas ligadas à produção agrícola, que trabalhavam diretamente com as terras, com o solo, com o vento, com a chuva… ajudou muito no sentido em que sei o quão importante é preservar a natureza para também conseguir usufruir dela, algo que acho nesta sociedade está um pouco esquecido. Esquecemo-nos que para sermos sustentados pela natureza temos de cuidar dela e vem muito daí, desse meu passado ligado à terra e de assistir a este panorama atual em que vejo que o foco não está na preservação do que nos sustenta, e que isso não está certo. Temos de ser muito gratos a este planeta que nos sustenta e essa gratidão deve ser manifestada pelo respeito e pelo cuidado, temos de voltar aí: a respeitar os ciclos da vida, os ciclos da natureza e perceber que a nossa espécie só tem continuidade se reentrar nesse reconhecimento do grande poder da natureza e do quanto precisamos dela.
Surgiu entretanto, e anunciamos em primeira mão, o convite para seres a voz da narração do novo documentário da Rewilding Portugal, atualmente em fase de gravações e produção, que vai para o ar em 2024. Foi um sim imediato? Estás entusiasmada com esta nova experiência?
Foi um sim logo imediato! O facto de eu conhecer já a Rewilding e de já ter estado no terreno convosco, “em vossa casa”, com as pessoas com quem trabalham diretamente, a vossa equipa, os vossos parceiros, ver os resultados no terreno da renaturalização que estão a levar a cabo, faz com que vista totalmente a t-shirt Rewilding Portugal e quando me convidam para ser a voz do novo documentário eu acho um privilégio e claro que sim, quero fazer parte! Primeiro por causa desta nossa ligação e depois porque enquanto estiver a narrar tenho a certeza de que vou aprender mais mil coisas devido ao vosso trabalho e da vossa experiência no terreno. Vejo nisto não só um privilégio, mas mais uma oportunidade para aprender mais coisas. Eu estou sempre disponível para aprender e saber o que está a acontecer. Terei todo o orgulho em através da minha voz passar a mensagem e o que está a ser feito pela Rewilding Portugal nestes últimos anos e o que é que está a ser conquistado, é um orgulho!
O que mais te inspira nesta abordagem de rewilding?
Assisto cada vez mais e com um grande lamento a esta desconexão do ser humano com os ciclos da natureza. Hoje em dia falar nisto é até meio hippie, quando na realidade é o nosso ADN, a nossa base, a nossa génese. Vivemos todos em caixas de betão em cidades sobrepopuladas, feias e fechadas, e a maior parte das nossas crianças nem sabe de onde vêm os hortícolas ou as frutas, o que comemos… E entristece-me. Esta abordagem rewilding quer devolver à natureza o tempo e o espaço de se regenerar a si própria, reconhecendo a sabedoria da própria natureza. E isso é o que mais me fascina. Se dermos espaço à natureza neste momento, e tivemos exemplos disso até durante a pandemia quando retirámos o elemento humano de certos espaços e ambientes, esta consegue regenerar-se, até porque o seu poder é imenso. Esta abordagem rewilding assenta nesse respeito pela natureza e pelo seu espaço e tempo para se curar. Acredita na mestria da natureza, e eu também acredito muito no mesmo. Esta abordagem, este conhecimento, faz-me todo o sentido e é por isso que me inspira e é por isso que me faz muito sentido estar convosco.