“CÔA – Corredor das Artes” – A arte regressa ao selvagem no Grande Vale do Côa

Agosto 1, 2022

Em 2023 a expressão artística está de volta ao Grande Vale do Côa e a arte regressa ao selvagem nesta região. O festival “CÔA – Corredor das Artes”, organizado pela Rewilding Portugal, vai ter a sua primeira edição a acontecer já no verão de 2023, no Grande Vale do Côa. Um festival que procura conectar artistas com comunidades neste ambiente natural, para assim cocriarem obras de arte que integraram a própria paisagem, usando materiais naturais e respeitando o seu decaimento natural.

O festival

Em 2023 a expressão artística está de volta ao Grande Vale do Côa e a arte regressa ao selvagem nesta região. O festival “CÔA – Corredor das Artes” vai ter a sua primeira edição a acontecer já no verão de 2023, no Grande Vale do Côa. Um festival que procura conectar artistas com comunidades neste ambiente natural, para assim cocriarem obras de arte que integraram a própria paisagem, usando materiais naturais e respeitando o seu decaimento natural.

O evento terá um formato móvel e itinerante, ocorrendo em cinco diferentes municípios do Grande Vale do Côa, em fins-de-semana consecutivos e também com programação ao longo da semana. O evento concentra programação artística junto das várias sedes de concelho que farão parte do festival, nesses fins-de-semana, tendo também uma componente científica forte que acompanhará as semanas entre esses dias de concentração num só local. Nestes fins-de-semana, o evento ocorrerá num lugar central de cada um dos concelhos, ao ar livre, e contará com cinema, teatro, música e outras artes cénicas, isto para além de pequenas feiras onde os produtores e operadores locais terão oportunidade de dar a conhecer os seus produtos e serviços aos visitantes. O festival terá ainda uma programação específica dedicada aos mais novos.

Ao longo da semana, a programação contará com oficinas e atividades de natureza, ciência e recreação, bem como visitas e caminhadas às peças de arte desenvolvidas pelos criadores que vão estar no território em residência artística. Falamos aqui de visitas de campo relacionadas com astronomia, biologia e geologia com especialistas destas áreas, visitas às áreas rewilding e muitas outras atividades inseridas no espírito e no conceito deste festival. No total, estarão entre 6 a 10 obras de arte desenvolvidas nestas residências artísticas expostas ao longo do Grande Vale do Côa, num roteiro que se torna um verdadeiro museu ao ar livre de arte integrada na paisagem e que se irá misturar naturalmente com esta. Pretende-se que o desenvolvimento destas obras crie uma ligação especial entre os artistas e as comunidades envolventes, tornando-as parte do processo criativo. Um roteiro para ser visitado e percorrido em ritmo lento, respeitando os ritmos lentos da própria natureza.

Está já aberta neste momento a call para artistas que queiram participar nas residências artísticas deste festival para criarem ou cocriarem as obras de artes integradas na paisagem. As inscrições encerram a 31 de agosto. O regulamento e todas as informações sobre o festival, assim como a submissão de inscrições para os artistas podem ser encontradas e feitas no recém lançado website do festival em: www.coa-corredordasartes.pt .

 

O conceito

Este festival celebra a herança cultural do Vale do Côa, que existe desde a pré-história, quando as pessoas começaram a gravar em rocha pela primeira vez as criaturas que viviam nessa região. Essas gravuras, de auroques, cavalos e outros animais selvagens ilustram que o homem sempre admirou a natureza.

João Ferreira

 

O Grande Vale do Côa é um corredor de vida selvagem, que desde esses tempos até ao dia de hoje mantém o seu apelo como um sítio rico em biodiversidade e paisagens diversas. Um corredor que se estende através dos tempos, onde geração após geração compartilharam a sua expressão artística de maneira aberta e ampla. As gravuras são hoje a expressão desses sentimentos, fluxos e movimentos. Este reflexo de uma visão de mundo está presente nas pessoas que viveram a paisagem, o festival visa permitir a expressão artística e cultural a estas comunidades, dos seus desejos e admiração por um ambiente em constante mudança.

Uma ligação clara entre a natureza (e a sua conservação) e o mundo artístico, que pode e deve ter um papel determinante neste processo, através da disseminação e principalmente da consciencialização de comunidades e seres individuais. Uma ligação que este festival pretende pôr em evidência e operacionalizar na prática, para que possam andar novamente de mãos dadas e para que a arte regresse ao selvagem, ao seu estado mais selvagem e integrado na própria paisagem, evoluindo e decaindo com esta e ao seu ritmo e espaço.

João Ferreira

Além disso, é um festival que pretende pôr em evidência o rewilding, ou renaturalização em português, uma abordagem progressiva de conservação da natureza. Trata-se de deixar a natureza cuidar de si mesma, permitindo que os processos naturais moldem a terra e o mar, reparem os ecossistemas danificados e restaurem paisagens degradadas. Através do rewilding, os ritmos naturais da vida selvagem criam habitats mais selvagens e mais biodiversos. Uma abordagem que confia na capacidade intrínseca da natureza de se autorregenerar e gerir a si própria se lhe forem dadas as condições essenciais para tal e que defende a necessidade restaurar ecossistemas e trazer de volta os elementos em falta na paisagem, para que esta volte a estar funcional e com os seus ciclos de vida completos.

O rewilding tem ainda a capacidade de não negar a presença humana nos ecossistemas, mas antes encontrar formas de coexistência e harmonia nesta presença, proporcionando novas oportunidades económicas e sociais para as comunidades locais, em zonas do país cada vez mais desertificadas, abandonadas e vetadas ao abandono e à falta de oportunidades e soluções, criando novas economias baseadas na natureza e por isso mais resilientes e adaptadas ao património envolvente. Rewilding é isso mesmo… É esperança, é imaginar um mundo onde o ser humano e a vida selvagem coexistem em harmonia. Um mundo onde a natureza tem mais espaço, tem mais tempo. Um mundo mais selvagem.

 

O promotor – Rewilding Portugal – e o financiamento do festival

A Rewilding Portugal é uma organização privada sem fins lucrativos, com sede na Guarda, e que tem a missão de promover a conservação da natureza por meio de medidas de rewilding em Portugal, principalmente na região do Grande Vale do Côa, onde se localizam as suas áreas rewilding. Esta é uma região onde as elevadas taxas de abandono rural criaram oportunidades para trazer a natureza de volta e para melhorar as condições deste importante corredor de vida selvagem para muitas espécies. O reforço deste corredor pode ainda ter um papel fundamental na recuperação de espécies com estatutos preocupantes de extinção, como o abutre-preto e o lobo-ibérico.

A Rewilding Portugal faz ainda parte de uma rede europeia de áreas rewilding, coordenada pela Rewilding Europe, que conta já com nove áreas rewilding por toda a Europa, com a missão de tornar a Europa um lugar mais selvagem.

Este festival é financiado pelo ELP / Endangered Landscapes Programme (Programa de Paisagens Ameaçadas) uma iniciativa progressista, gerida pela Cambridge Conservation Initiative e financiado pela Arcadia, um fundo de caridade de Peter Baldwin e Lisbet Rausing, que prevê um futuro onde as paisagens da Europa sejam ricas em biodiversidade, estabelecendo ecossistemas resilientes, mais autossustentáveis, que beneficiam a natureza e as pessoas, restaurando processos, populações e habitats para um futuro melhor e mais sustentável. No Grande Vale do Côa, este financiamento está a permitir desenvolver e reforçar um corredor de vida selvagem de 120.000 hectares no Grande Vale do Côa, através do projeto “Promover a renaturalização do Grande Vale do Côa”, coordenado pela Rewilding Europe em parceria com a Rewilding Portugal, Zoo Logical, Universidade de Aveiro e Associação Transumância e Natureza.

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